REFLEXÕES ACERCA DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR.
A característica mais notável da melancolia, e aquela mais precisa de explicação, é sua tendência a se transformar em mania.
Freud (1917).
Ao iniciarmos uma reflexão sobre o Transtorno Afetivo Bipolar, é preciso ponderar, pois à psicanálise sempre esteve receosa para lidar com esse assunto. Os trabalhos sobre o tema são raros. Se há alguma dúvida, basta examinar a bibliografia psicanalítica. Encontramos apenas algumas referências como o texto de Freud (1917), “Luto e Melancolia”, e alguns indicativos em Lacan ao longo de seus estudos.
Essa breve abordagem sobre o Transtorno Afetivo Bipolar é fruto de uma pesquisa relacionada ao tema.
DA BIPOLARIDADE:
Ser bipolar é como levar uma vida dupla. Uma hora a euforia toma conta e leva o organismo ao seu limite de excitação, até mesmo sexual. É energia que não acaba mais, a ponto de o sono tornar-se quase desnecessário. Perde-se a capacidade de julgamento e a autocrítica e há quem se torne irritadiço. Para descrever esse estado de ânimo os médicos utilizam o termo MANIA. Ela é um dos extremos de uma doença caracterizada por uma profunda instabilidade de humor, o qual oscila entre esse estado eufórico intenso e o seu oposto, a depressão.
Para os portadores do Transtorno Bipolar doença que há poucos anos era conhecida como Psicose Maníaco-Depressiva, encontrar o equilíbrio entre as duas pontas das emoções radicais é como tentar andar sobre um terreno movediço. “É o pessoal do 8 ou 80”, resume o psiquiatra Diogo Lara, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – e autor de Temperamento Forte e Bipolaridade. “Diferentemente de quem tem um humor saudável, os que sofrem desse transtorno não costumam ser previsíveis ou flexíveis nem respondem com proporcionalidade aos estímulos.” Acredita- se que 1% da população mundial conviva com o tipo 1 da doença, ou seja, o tipo 1 da doença é considerado o mais grave.
Pode até parecer pouco, mas na verdade o Transtorno Bipolar é um tormento para muito mais gente. Estima-se que cerca de 5% das pessoas tenham instabilidades de humor em algum grau. Feitos os cálculos, os brasileiros alterados somam aproximadamente 9 milhões. Muitos deles nem sabem do próprio distúrbio. Outros, ainda pior, são tratados da maneira errada. “Nesse caso o diagnóstico costuma ser esquizofrenia ou simplesmente depressão”, conta o psiquiatra Jair Soares, chefe da Divisão de Transtornos do Humor e Ansiedade da Universidade do Texas em San Antonio, nos Estados Unidos.
Sabe-se que essa é uma doença em grande parte determinada pelo histórico familiar. Uma criança que tem um dos pais com Transtorno Bipolar apresenta uma probabilidade de 15% a 20% de manifestar o mesmo problema. Um estudo, realizado com gêmeos idênticos, mostrou ainda que, se um deles tem a doença, o risco de o outro também vir a ser uma vítima é de 80%.
A mais recente descoberta sobre a origem do mal vem de um grupo de pesquisa do Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Os cientistas andavam em busca de uma pista sobre a relação entre o Transtorno Bipolar e a molécula BDNF (sigla em inglês para fator neurotrófico derivado do cérebro), cuja atuação na memória já era bem conhecida. As evidências dessa ligação ficaram muito claras em seu estudo.
IMAGEMTXTO – o trabalho mostrou que os bipolares têm menos BDNF no sangue do que as pessoas normais. “E notamos que, quanto menores os teores no sangue, maior a gravidade da doença”, revela um dos autores do trabalho, o psiquiatra Flávio Kapczinski, responsável pelo Laboratório de Psiquiatria Experimental do hospital gaúcho.
Como os níveis dessa molécula são ditados pela genética, à esperança é de que ela possa vir a ser um marcador da doença. O teste ainda é experimental, mas deverá se tornar rotina médica nos próximos anos.
Igual a todo distúrbio da mente humana, porém, a bipolaridade também é determinada pela maneira como lidamos com as adversidades. “Muitas vezes pode-se até herdar o gene que leva a uma predisposição, mas, sem um evento estressante, o transtorno não se desenvolve”, afirma o psiquiatra Beny Lafer, professor da Universidade de São Paulo e coordenador do grupo de pesquisa em Transtorno Bipolar do Hospital das Clínicas da capital paulista. “Em caso de estresse emocional ou abuso de drogas, os riscos ficam de quatro a cinco vezes maiores.”
O problema geralmente dá as caras no final da adolescência e no início da vida adulta, mas a meninada menor também é alvo. Na infância, aliás, não raro ele é confundido com distúrbio do déficit de atenção e hiperatividade. “Crianças diagnosticadas assim, mas que não respondem ao tratamento podem ter na realidade o Transtorno Bipolar. Descobrir a doença cedo e controlá-la o quanto antes ajuda seu portador a levar uma vida normal.
As oscilações do humor podem ser trágicas. Uma depressão prolongada, daquelas que chegam a durar meses ou mesmo anos, muitas vezes são o estopim de uma tentativa de suicídio. No outro extremo, o da mania, algumas semanas de crise são suficientes para pôr toda uma vida a perder. Relações são desfeitas. O dinheiro economizado por décadas, torrado em poucos dias. Melhor dizendo, não necessariamente nessa ordem. Entretanto, não há cura para o Transtorno Bipolar. Mas, como outras doenças crônicas, trata-se de um mal controlável.
Em casos de bipolaridade, os remédios conhecidos como estabilizadores do humor são fundamentais para o tratamento do tipo 1 e para alguns pacientes do tipo 2, como os médicos chamam uma forma mais moderada do transtorno. Qualquer que seja o tipo, porém, o maior problema costuma ser a resistência do paciente a tomar os medicamentos. Um dos motivos está nos efeitos colaterais. O LÍTIO, por exemplo, que ainda é uma das drogas mais usadas, pode provocar ganho de peso, tremores, aumento do apetite e retenção de líquido. (…) “Mesmo assim, os benefícios são muito maiores do que os efeitos colaterais”, opina Beny Lafer, da USP.
No entanto, é bom que fique claro: nenhum remédio, sozinho, opera milagres. Ele pode restaurar o equilíbrio químico dentro do cérebro, mas e as emoções? Hoje, até os cartesianos mais ferrenhos já deixaram de considerar a mente e o corpo como estruturas absolutamente separadas. No caso do Transtorno Bipolar, estão intimamente ligadas. E é aí que entra a psicoterapia, como peça fundamental do tratamento dos bipolares. “Aliás, não se trata de uma doença mental apenas, mas um mal sistêmico que afeta o indivíduo como um todo. Esse paciente requer uma equipe multidisciplinar”, defende Flávio Kapczinski.
Prova disso é que, em uma das pesquisas realizadas pela equipe de Kapczinski, descobriu-se que os pacientes bipolares têm no cérebro uma quantidade menor de enzimas antioxidantes em comparação com o resto da população. Essas substâncias são essenciais para a manutenção da saúde ao evitar mutações genéticas que podem dar início ao câncer, por exemplo. “Não é por acaso que os bipolares têm maior incidência de morte por tumores, doenças cardiovasculares e diabete”, acredita o psiquiatra. “Estamos em busca de métodos que permitam aos pacientes ficar livres não só das alterações do ânimo, mas de outros danos.”
O SOBE-E-DESCE DAS EMOÇÕES.
As fases eufóricas são chamadas de mania. As mais brandas, de hipomania. Podem durar de alguns dias até longos meses, assim como as fases da depressão.
Doença do corpo e da mente, a bipolaridade também pode se enquadrar em outra categoria, a de doença social. Afinal de contas, muitas vezes não é o transtorno em si o que mais preocupa os pacientes, mas a reação das outras pessoas. Em outras palavras, é preconceito mesmo. (…) Ora, se a vida é dupla e a doença é tripla, a conta só fecha porque as soluções são múltiplas.
RELATO VIVO
IMAGEMTXTKAY REDFIELD JAMISON é psiquiatra, cientista, professora de uma das mais prestigiadas instituições acadêmicas dos Estados Unidos, a Universidade Johns Hopkins. E sofre de Transtorno Bipolar. Num inusitado caso de atividade de pesquisa que se mistura com experiência pessoal, ela se tornou uma das maiores especialistas do mundo naquilo que ainda prefere chamar de doença maníaco-depressiva. O relato de sua convivência com o transtorno, muitas vezes apavorante, embora carregado de esperança, está no livro: Uma Mente Inquieta, editado no Brasil pela Martins Fontes.
É a história de quem atravessou o deserto do descontrole. “A doença maníaco-depressiva deforma seus pensamentos, estimula comportamentos aterradores destrói a base da razão e, com enorme frequência, solapa o desejo e a vontade de viver”, escreveu Kay Jamison. “É uma doença sem par pelo fato de proporcionar vantagens e prazer que, como consequência, levam a um sofrimento quase insuportável.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Apesar de todos os estudos e pesquisas científicas – essas estratégias ainda precisarem provar seu valor na busca pela identificação de genes que predispõem ao TBP, tal descoberta certamente terá implicações importantes, tanto no entendimento, como no tratamento dessa grave condição. Evidentemente, que a maior importância para o paciente TPB e seus familiares é o conhecimento e a compreensão dessa condição.
REFERÊNCIAS:
Transtorno Bipolar – Associação Brasileira de Psiquiatria – www.abp.org.br [ Links]
www.epv.psicologia.com [ Links ]
Revista Brasileira de Psiquiatria – Rev. Bras. de Psiquiatria Vol. 21 s.2 SP Octc 1999 – On-line version ISSN 1809 -542X – www.scielo.br [Links]
michele angelillo
Argomento molto tecnico e molto interessante .”A cabeza e’ uma casca de cebula”. Basta poco per causare comportamenti anomali e spesso ancora inspiegabili su base neuro-fisiologica.
Sempre elogi a Luzziane che fa il suo lavoro con grande interesse e dedizione.
Douglas Moraes
Muito edificante o conteúdo desses assuntos, inclusive, serve como orientar,lidar, e se conduzir diante de pessoas problemáticas no âmbito de uma comunidade. Deveria existir campanhas educativas nesse sentido, para que todos pudessem melhor interagir com tais desníveis de comportamento social.
Eu
Estava mexendo nas minhas coisas e encontrei uma cartinha de uma amiga dos tempos de faculdade, isso foi há alguns anos, quando eu ainda não sabia que tinha o transtorno bipolar. Então ela me escreveu nessa cartinha, dizendo o seguinte: “Oi, amiga! Como você está? E a cabecinha está melhor ou continua confusa…?” Voltei àqueles tempos de nossa amizade, e só agora vejo como as pessoas já me sacavam, o quanto eu era instável, mas que bom que hoje posso dizer que a cabeça está menos confusa porque pelo menos eu já me entendo. Com o tratamento dia a dia estou me reconciliando. Acho que muitas pessoas que são bipolares não sabem que são… Era o meu caso, assim ficam perdidas e fazendo besteiras.
Meu lema nos dias atuais é equilíbrio, não deixar a doença me dominar, superar a depressão e ter fé na vida.
O lítio tem ajudado, mas ele é só uma gota nesse oceano bipolar, pois 100% depende de mim. Gente, vocês que estão vendo esta matéria e que conhecem pessoas com o transtorno, ou que tenham o transtorno, saibam que o tratamento é necessário, mas é preciso força de vontade! Hoje, eu tenho um companheiro, mas eu desabafo aqui, foi necessário muito empenho meu para manter meu relacionamento vivo e sadio. Sei que em muitos momentos eu fui intolerável, mas hoje estou caminhando com fé, força, terapia e amor por mim, por meus familiares, inclusive ele o meu amor! Pois o que digo é que nessa doença quem está conosco padece. Cuidem-se!
Bjs
Mel Bustamante
WOW!! Quando atuava nesta area de contato mais proximo com a mente, eu conhecia como DCM ou quando mais apurado PMD… e trabalhei com muitos casos. Tendo eu mesma, detectado os sintomas em algumas pessoas… e apos avaliação com psicologo, psiquiatra e/ou neurologista era sempre confirmado. Como pode ser comum e invisivel!
O termo bipolar nao entra na minha cabeça!
Otimo e instrutivo texto, como sempre, querida Luz!
Mara
Amiga seu texto é a realidade em que vivemos…. Pessoas passam por nós com essas características o tempo todo, mas elas não se dão conta que tem um problema e ofuscam achando que isso é o melhor caminho…
Bjos!
Mariano
Mente saudável para um corpo saudável. Infelizmente, hoje há uma alta porcentagem de bipolar devido ao estresse dos tempos modernos, a falta de comunicação, educação, etc. Que vai com a insegurança e imaturidade que se manifesta no ambiente com indivíduos instáveis que fazemos dúvidas entre nós, na companhia de materialismo deixando a espiritualidade e os valores e não sabemos como agir fazendo as duas coisas e com duas personalidades ou como ser. (Apontando lá para um lado ou para o outro lado, apontando para trás para ver se conseguimos). Isso causa um problema que transtorno mental com sentimentos depressivos de forma diferente. Enquanto a tecnologia avança rapidamente, o tempo está correndo muito rápido, sem dar espaço para meditar, refletir e nos dar uma pausa e isto nos altera. Para fazer isso, eu acho que a maturidade e a tranquilidade de uma pessoa é fator crucial como ponto de partida ou base com este cosets de coisas que é acompanhado com a segurança de nós mesmos. Isso é tudo que posso dizer. Com o tempo o mundo é destruído e isso cada vez mais preocupa. beijos Luzziane.
Paula Roberta
Matérias q nos alertam. A mente humana é um mistério… Acho q por mais difícil q seja conviver com esta doença, é preciso mais q medicações, a pessoa precisa de muita força de vontade ! Não é fácil, mas a doença não pode dominar a pessoa, porque se a vítima do transtorno bipolar se acomodar, ela será inteiramente infeliz! E é praticamente impossível conviver com alguns bipolares…
Beatriz P.
Desejar ser feliz é um grande avanço. Fiz uma reforma intima, e a cada momento q passa na minha vida me autoconheço, pq através do autoconhecimento eu pude me educar, me disciplinar e me policiar. Ser bipolar é ser especial, somos inteligentes, sensitivos, mas às vezes esta sensitividade pode nos levar a ações e interpretações paranoicas… Mas somos capazes de superar. Não dê poder a essa doença devastadora de manipular sua vida e te fazer acreditar q não é ninguém! Seja você o autor da sua felicidade, faça o q gosta, e quando sentir esse vazio peça a Deus para te adornar com a força maior d’Ele. Se mova no sentido de combater a dor, eu sei q não é fácil, é desgastante, mas, faça o exercício do equilíbrio… Não jogue a culpa nos outros… Não dá p nos esconder atrás das “nossas falhas”…, mas tem q ser persistente constantemente… Jamais desistamos, nós podemos muito mais do q supomos!
Parabéns pelos assuntos dos seus artigos!