“De erro em erro, vai-se descobrindo toda a verdade”.

Freud.

São muitas as pessoas que podem afirmar já ter vivido um relacionamento desatinado. A relação doentia é aquela que se projeta sob um conluio inconsciente e neurótico, baseando-se no início a identificação de um no outro, não raro acreditam que se encontraram porque tinham muito em comum, mas na medida da convivência vão percebendo dois mundos distintos, e que jamais se misturariam – causa dos conflitos e desatinos, que age contra a saúde emocional dos parceiros ou, pelo menos, de um dos envolvidos que tenha sensibilidade para perceber que algumas pessoas só chegam para fazer arrastões tremendos.

Ela pode começar com um aspecto saudável, resultado de real afinidade sexual, afetiva, e mais outras coisas envolvidas, por outro lado, não tarda e a patologia surgi, podendo desencadear os mais diversos sentimentos: ciúme, competição, crítica, agressividade, negligência, rejeição, chantagem. Quem vive uma relação assim, muitas vezes tem dificuldade de se desvencilhar do parceiro porque sente que algo o prende a ele e/ou porque acredita que é apaixonado e não consegue deixá-lo, mesmo sabendo do alto preço que está pagando. Relações dessa natureza são destrutivas, já que elas vão, aos poucos, minando a saúde emocional e a autoestima dos parceiros – reiterando, ou, pelo menos de um dos parceiros, e costumam causar danos gravíssimos. No entanto, o que move esse tipo de relação é o “SENTIR” apaixonado. De fato, não há como duvidar que possa haver sentimentos bons e verdadeiros nesses casos. Porém, o investimento afetivo é tão exacerbado que a pessoa se vê vazia, esgotada e desgastada. Não há reciprocidade, apenas desgaste/desperdício.

Nesse contexto, mesmo os mais apaixonados percebem que a relação é prejudicial. Então, passam a se posicionar para uma provável separação. Entretanto, como é muito dolorido terminar um relacionamento, muitas acabam por protelar a decisão: a pessoa começa  manipular a si mesma, ou seja, marca uma data, mas sempre acha cedo para um diálogo, isto é, quando dá para ter diálogo.

Mesmo sabendo que é o melhor, questiona a sua capacidade de suportar o fim e de fazer a travessia de volta a uma realidade saudável. Uma relação assim consome a autoestima porque faz a pessoa duvidar da própria capacidade, pois geralmente, uma das partes na relação subestima tanto o outro, que esse, o mais sensível acaba por acreditar ser incapaz. Há muita culpa e descrença em si próprio, o que torna ainda mais difícil tomar uma iniciativa e recomeçar a vida.

Mas, logo, se instala uma contradição: se a pessoa está numa “relação desse nível”, não adianta ficar esperando o dia em que se sentirá potente o suficiente para dar um fim. Quanto mais tempo passa, mais descrente fica a pessoa é sua capacidade de superação. Óbvio que o fim de um relacionamento necessita de um tempo para amadurecer a decisão, mas numa relação nociva o melhor é que esse tempo não se prolongue, pois vai ficando improvável que esse dia chegará para que haja o rompimento da relação de forma mais fácil.

O ideal é que se tenha sagacidade e artifícios para impulsionar a separação e para tornar a fase intensa, menos dolorosa. Em suma, esse tipo de relação costuma deixar marcas profundas e, às vezes, até prejudicar relacionamentos futuros, que podem ser vivenciados com desconfiança e temor. Mas, em grande parte desses casos, ficam aprendizados importantes que ajudam a mudar – para melhor – o padrão de relacionamento. As escolhas, dali em diante, provavelmente se tornarão mais maduras e saudáveis. Ao se desprender de uma relação nociva, a pessoa se sente fortalecida, satisfeita consigo mesma pela coragem de dar fim a um ciclo autodestrutivo e por manter essa decisão apesar de todas as tentações de uma recaída. (Mas, é sempre bom estar atento a possíveis recaídas, pois o defeito é, sim, sedutor). Se não o fosse ninguém cairia em esparrelas. Vale ressaltar que, a possibilidade de ingressar em uma terapia ajudará a se autoconhecer e se fortalecer.