INTRODUÇÃO:

Este artigo tem por objetivo abordar de forma objetiva a singularidade da condição de desamparo e de dor psíquica, considerando os aportes da Psicanálise. A escuta analítica torna-se instrumento fundamental na intervenção de situações de desamparo e dor psíquica. Na transferência, instala-se um campo de ancoragem e de acolhimento, que possibilita que o excesso, nomeado como dor psíquica, seja simbolizado, retirando o sujeito do terreno do mortífero e do irrepresentável. Sabemos que as dores não simbolizadas no físico, geralmente, são ignoradas pelos profissionais da ciência médica. Muito embora, hoje, exista uma gama menor de profissionais de saúde, que ignoram a dor não simbolizada no físico. Discorremos neste artigo, as dores silenciadas, ou seja, não simbolizadas fisicamente.

DO AVANÇO AO CONHECIMENTO DAS DOENÇAS NA ERA DIGITAL:

Cada vez mais, a psicanálise vem participando no avanço de novos caminhos para à saúde. Atualmente, os temas epidêmicos de saúde são discutidos em espaços mais expansivos, advindo, inclusive, com a era digital, que possibilitou a todos os que queiram se informar sobre diversos temas, bem como, os temas relacionados à saúde psíquica. Assuntos como: síndrome de fibromialgia, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, depressão, entre outros temas relacionados às doenças psicossomáticas, deixam claro a influência que o psiquismo possui na criação e agravamento de sintomas. Pressões psicológicas cotidianas, por exemplo, a que estamos submetidos, assim como, o assédio moral confirmam a influência do meio social no psiquismo e sendo assim, na produção de novos sintomas.

DA DOR E SUA REPRESENTATIVIDADE:

No livro A DOR FISÍCA (J. D. Nasio) o autor distingue a dor em 3 tipos: Dor Corporal, Dor Psíquica e Dor Psicogênica. Em se tratando de dor psicogênica, ele definiu como uma dor (nesse caso sintoma) de origem psíquica que vem exprimir-se no corpo. Neste caso, as situações de vida que não conseguimos elaborar, como também os sentimentos são dirigidos ao nosso Inconsciente e se tornam uma força psíquica poderosa. Com embasamento neste ponto de vista, basta observar as lesões psíquicas e, também, físicas, do sujeito que procura ajuda médica e psicológica. Portanto, em se tratando de lesões, não necessariamente, essas aparecerão em formas de feridas físicas, posto que em grande parte essas lesões não estão visíveis aos exames clínicos ou laboratoriais.

Outro ponto de vista de importante relevância, é a tese do fisiatra americano John Sarno: “a dor psicogênica é uma estratégia da mente para desviar nossa atenção do conteúdo psíquico que deseja emergir”. Sarno na elaboração de sua teoria inspirou-se em evidencias da psicanálise freudiana e psicossomática.
Ambos os autores: têm como conceito de que a dor psicogênica é de origem psíquica. Nasio, é ainda mais incisivo e afirma que, toda dor é psíquica, uma vez que possui estreita relação na origem e/ou interferência dos sintomas físicos.

A IMPORTÂNCIA DA ESCUTA ANALÍTICA:

A importância da temática da dor psíquica para a Psicanálise é inquestionável. Tal afirmativa é feita por Freud (1905/1976, p. 302), ao expressar no artigo Tratamento Psíquico ou Mental: “é em geral verdadeiro que ao formarmos um julgamento das dores (que são normalmente consideradas fenômenos físicos) devemos ter em mente sua inequívoca dependência em relação a determinantes mentais”. Os leigos, segundo Freud (1905/1976, p. 302), gostam de rotular essa espécie de influências mentais como “imaginação” e inclinam-se a demonstrar “pouco respeito por dores devidas à imaginação em contraste por ferimentos, doença ou inflamação. Mas isto é claramente injusto. Como quer que as dores sejam causadas – mesmo pela imaginação – elas próprias não são menos reais nem menos violentas por isto”.

A realidade e a dramaticidade presentes nos produtos psíquicos exigem uma diferenciação: não se trata apenas de ouvir o que o paciente tem a dizer, mas, sim, efetivamente escutá-lo. A complexidade do Inconsciente exige e impõe o requisito de uma singularidade de escuta. Busca-se, a partir do desamparo, então, demarcar o fundamental papel da escuta psicanalítica como possibilidade de atribuição de significado à dor psíquica e, consequentemente, como possibilidade de retirar o sujeito da trama de suas repetições.

CONCLUSÃO:

A epidemia de dor que assola o mundo é algo que merece uma cuidadosa consideração, pelo campo da saúde. O sujeito moderno calado em suas “convicções” responde cada vez mais ao social, com seu corpo. Essas tantas novas “dores” apontam um fim ao pensamento dual: mente e corpo.
Vale ressaltar que, a escuta sobre tal queixa está muito além, do visível aos exames clínicos ou laboratoriais.
O desafio clínico de nossos dias é transformar o sofrimento psíquico que caracteriza o mundo contemporâneo em um real sentido, isto é, a dor psíquica é real no físico, mesmo não sendo palpável e/ou vista. Reitera-se, que, o grande desafio clínico, hoje em dia, é dar sentido à dor não simbolizada. Enquanto se acredita que um sentido existe, a dor, por maior que seja, é apoiada pela esperança e isso nos livra do desespero. O que se espera do profissional de saúde, hoje, é que mais do que interpretar o sentido oculto dos sintomas, ele se empenhe em escutar a dor inominável de seus pacientes, a fim de que esses se tornem capazes de criar novos sentidos e novos caminhos para suas vidas.

REFERÊNCIAS:
NASIO, J-D. O livro sobre a dor e amor. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
FREUD, S. (1905). Tratamento psíquico (ou mental). In: _____. Obras completas. v. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
FREUD, S. (1920). Além do Princípio do Prazer. In: _____. Obras completas. v. XVIII.
Rio de Janeiro: Imago, 1976.
FREUD, S. (1926). Inibição, sintoma e angústia. In: _____. Obras completas. v. 20. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
Paula M. (2012) Novos Ares na Psicologia. Psicóloga, especialista em Psicanálise 1 Carolina N-B-F. DOCKHORN, 2 Mônica M-K. MACEDO, 3 Blanca S-G. WERLANG. Desamparo e Dor Psíquica na Escuta da Psicanálise.
Zeferino R. A Dor Física e Psíquica na Metodologia Freudiana. Rev. Mal-Estar Subj. vol.11 no.2 Fortaleza 2011