“O sintoma é a estrutura.” Jacques Lacan.

INTRODUÇÃO:

O presente artigo tem por objetivo discutir o desvio de caráter e classificá-lo em uma estrutura.
A psicanálise estuda, reflete e trabalha as hipóteses diagnósticas a partir de três principais grupos de estruturas clínicas: Neurose, Psicose e Perversão. Segundo a psicanálise, o sujeito está caracterizado em uma destas três estruturas. Abordaremos, portanto, neste artigo a estrutura Perversa.

Vale ressaltar, que existem nomenclaturas diferentes, mas similares, por exemplo, na psiquiatria a estrutura perversa é chamada de psicopatia, muito embora Perverso e Psicopata têm significados semelhantes, dentro do entendimento de ambas: psicanálise versus psiquiatria.

O conceito de perversão sofreu modificações do início freudiano aos nossos dias. Não devemos confundir a estrutura perversa citada pela psicanálise com as perversões listadas pela psiquiatria e/ou outras ciências e mesmo religiões e filosofias. A perversão do ponto de vista psicanalítico, é uma renegação da castração, com fixação na sexualidade infantil. O sujeito aceita a realidade da castração paterna, que, para ele, é inegável; mas, ainda assim, diferente do neurótico, tenta desmenti-la e negá-la. Para Lacan, a perversão será detectada no discurso de cada um. O perverso se dá o direito de transgredir a lei e viver segundo seus próprios requisitos, enganando as pessoas. Em uma linguagem popular, o perverso é o mau-caráter.

Popularmente muito se escuta estas frases: “Não se pode julgar um livro pela capa. Não se pode criticar pela aparência. Eu sou quem eu sou!” Ana Rufato.

Mas o sex-appeal do perverso mora nos detalhes. Mas, também, são nos detalhes que residem às armadilhas e maldades do sujeito. O fato de saber mais detalhes da vida de uma pessoa, não quer dizer que conheça o seu íntimo.

Então vejamos: a terapia pode curar pessoas com desvio de caráter?
O que nós chamamos de desvio de caráter, a psicanálise chama de perversidade. A psicanálise vê o sujeito com desvio de caráter e/ou “mau-caratismo” e responde se esse desvio tem cura ou não. Todavia, não existe cura para o sujeito perverso. E não hesite em se iludir, pois a conta a ser paga culminará com à sua saúde e/ou a própria vida.

Para a psicanálise, o perverso é um sujeito embotado que pratica a maldade e afeta a vida do outro tanto psíquica como física. O perverso é aquele sujeito desprezível, com falta de consideração, que incita o desdém – e faz de tudo para ver o outro, usado por ele desestabilizado. Muito embora, o perverso raramente perde o controle, porque o perverso é embotado. A razão dele é intacta as emoções.

O perverso é aquele sujeito que só tem como meta o prazer e o horror que causa na sua presa. Portanto, não respeita nenhuma lei, que não seja o prazer do gozo para ele. O prazer é a única lei do perverso. Esse perfil desconhece a culpa, não sente culpa e, possivelmente, dependendo do grau do seu desvio de caráter não sente e nunca sentirá angústia.

O perverso sabe tudo! O perverso tem uma lábia que “nós neuróticos” não conseguimos ter. Eles são os melhores sedutores. Por exemplo: ele sabe falar como ninguém, seduz como nenhum outro. Por isso, quando analisamos os casos clássicos da perversão, percebemos o porquê eles são tão sedutores e instigantes -, ou quando convivemos com um desses. Da experiência de convivência e/ou ter convivido com um sujeito de estrutura perversa, restará marcas e feridas na psique-emoções.

“Poderíamos dizer que o psicopata é aquela pessoa que sabe a letra da música, mas não sente a melodia”.  Ana Beatriz Barbosa Silva.

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O tratamento terapêutico não é viável para a estrutura perversa, pois só servirá para esse sujeito aprender a manipular ainda mais, e ficar ainda mais requintado nas suas maldades. O sujeito só é analisável, quando ele pode conjecturar que o analista tem o saber do qual ele pode se beneficiar. Se não houver esse entendimento para o sujeito que, se põe a ser a analisado – compreendendo que essa realidade é a base para o bom desempenho terapêutico – não existirá análise possível de progresso. Mas reiteramos que, o mau-caráter não é analisável do ponto de vista da psicanálise clínica.

CONCLUSÃO:

Não existe na análise cura para tudo. Não raro, existem pessoas que nunca vão assumir a sua identidade verdadeira, ou nunca vão conseguir resolver determinado trauma, independente da estrutura -, pois muitas pessoas não dão conta de elaborar as suas mazelas. O tratamento analítico, portanto, depende de cada sujeito e do nível de profundidade que queira atingir. Mas, em relação à estrutura perversa, não se pode iludir, a terapia não funciona para as mentes perigosas, pois são frios, calculistas, insensíveis, inescrupulosos, transgressores de regras sociais e absolutamente livres de constrangimentos, ou julgamentos morais internos. Eles são capazes de passar por cima de qualquer pessoa apenas para satisfazer seus próprios interesses. Mas ao contrário do que pensamos, não são loucos, nem mesmo apresentam qualquer tipo de desorientação. Eles sabem exatamente o que estão fazendo.

REFERÊNCIA:

Mentes Perigosas – o Psicopata Mora ao Lado
Ana Beatriz Barbosa silva 

Autora Luzziane Soprani