Nada é mais temível do que dizer algo que possa ser verdadeiro. Pois logo se transformaria nisso, se o fosse, e Deus sabe o que acontece quando alguma coisa, por ser verdadeira, já não pode recair na dúvida.(LACAN, 1958: 622)
Quem fala a verdade? Quem é o personagem encarregado de dizer a verdade? De quem se espera a verdade? Qual a importância de a verdade ser dita, e qual a importância de existir alguém que diga a verdade?
O inconsciente é o discurso do Outro… Esse outro é o Outro invocado até mesmo por minha mentira como aval da verdade em que ela subsiste. Nisso se observa que é com o aparecimento da linguagem que emerge a dimensão da verdade. (LACAN, 1957: 529)
O ser verdadeiro tem a boa intenção de falar ao outro de maneira que ele possa compor uma relação independente – independente e satisfatória consigo mesmo. Percebe-se que, àquele a quem se fala acaba não precisando mais ouvir e/ou interpelar o mesmo discurso, porque ele foi verdadeiro. Quando um discurso verdadeiro é transmitido, é possível interiorizar-lo, subjetivando-o – dispensando indagações com o outro. A verdade garante a autonomia daquele que ouviu as palavras em relação àquele que as pronunciou.
Quando se fala a verdade, o perigo vem do fato de que a verdade dita possa golpear tanto o emissor quanto o receptor; é uma forma suscetível, de uma condição em que aquele que fala está em posição de desvantagem diante do receptor, porque, aquele que fala/emissor pode ser interpretado de várias maneiras. Também é uma maneira de dizer a sua verdade, mas em seguida corrigir o dito quando fere aquele que ouve/receptor. O poder de falar a verdade, leva o emissor a correr riscos de ser contestado ou abandonado pelo(s) seus ouvinte(s). Perdendo assim, toda credibilidade daquele(s) que ouve.
A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras. Prestar atenção ao que não foi dito, ler as entrelinhas. A atenção flutua, toca as palavras sem ser por elas enfeitiçada. Cuidado com a sedução da clareza! Cuidado com o engano do óbvio! Rubem Alves.
Os dizeres são silenciosos, até serem expressados, até serem acreditados. O dizer verdadeiro de alguém que crê no que diz e ousa dizê-lo, põe a prova de algum modo, a contrapartida do dizer e da verdade do outro. Pois, a palavra proferida é tal como a oportunidade perdida, não volta atrás.
Por fim, é necessário dizer que a glória não está em ser o dono da verdade -, mas sim, na forma como nos colocamos e defendemos nosso ponto de vista – devemos ser altivos de nós mesmos e não ter receio de ver a verdadeira realidade que nos rodeia. E não ter medo de perceber que podemos errar, mas também ter a humildade, a sensatez de nos assumir, mesmo que seja apenas para nós mesmos. Mesmo diante da hipocrisia da humanidade, vale a pena ser verdadeiro.
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