AUTOESTIMA NA SOCIEDADE DAS REDES SOCIAIS
“Nossa vida nos parece muito mais bonita quando deixamos de compará-la com as dos outros”. (Nietzsche)
Em tempo de redes sociais, o olhar do outro se tornou necessidade básica para existir. O sujeito da era digital: faz de tudo para reter em si o olhar do outro. Nas redes sociais, existe uma compulsão à repetição. Vemos aparições efusivas, com fotos, fatos e vídeos – tudo para ganhar visibilidade. Em tempo de distribuição da imagem, às pessoas estão apelando pela atenção alheia. Prolifera assim, o desejo de ver a si mesmo – através do olhar do outro – levando o sujeito a uma competitividade – como, por exemplo, “Quem é mais popular nas redes sociais?”
Todavia, se todos estão se autoapreciando: existe alguém capaz de reconhecer o outro? Todos nós sabemos que é impossível encontrar uma pessoa completa. Somos seres “furados”. E como diz Lacan: “Somos seres faltantes.” Se não falta é porque a pessoa não enxerga a falta, está simplesmente sonhando e alucinando a sua imagem.
DA AUTOESTIMA NAS REDES SOCIAIS:
Podemos ver uma falsa autoestima nas redes sociais – com um descontrole compulsivo de inúmeras fotos, fatos e vídeos em postagens – tornando-se apelador. Não raro, o sujeito deseja demasiadamente, ou, quase como uma euforia, receber curtidas em suas postagens. Afinal, ser “curtido” é sinal de afeição, admiração e popularidade. Percebe-se, o quanto o sujeito se expõe para ser “exclusividade de uma vitrine virtual”. Eis que assim, vem o reconhecimento e a popularidade momentânea dos seus desejos cibernéticos.
O outro se torna um espelho, porque, não existem tantos amigos reais para dar notoriedade ao sujeito como acontece nas redes sociais. A pessoa tem em suas mãos uma ferramenta para se tornar popular. Isso significa que, sendo observado, ele de pronto fique popularmente conhecido. Assim, o famoso da era digital se sentirá admirado e poderoso! Sabendo que seus seguidores estarão sempre atentos a correr para curti-lo. Na ânsia, o “curtido” precisa competir para existir. Isso faz com que essas pessoas se sintam importantes perante a sociedade nas redes sociais. É o desejo de sentir-se com a autoestima gloriosa. Todavia, necessário se faz retroalimentá-la, com novas postagens para manter-se em evidência.
DO AUTOCONTROLE A AUTOESTIMA:
“Roy Baumeister afirma que o autocontrole é mais importante que a autoestima. Defende que o sucesso depende mais da capacidade da pessoa controlar seus impulsos, de adiar o prazer imediato em nome de um objetivo maior no longo prazo. Baumeister considera que a autoestima é mais uma consequência do que uma causa. O autocontrole ajuda as pessoas a serem mais bem sucedidas do que a autoestima. E segundo ele, a força de vontade é um dos ingredientes que nos ajudam a ter autocontrole. É a energia que usamos para mudar a nós mesmos, o nosso comportamento, e tomar decisões.”
Na sociedade digital, vemos inúmeros casos de descontrole das emoções: afetando, inclusive, o equilíbrio psíquico, deixando o sujeito à mercê dos impulsos e obsessões. Surgi, então, uma espécie de “TOC coletivo”.O desejo em aparecer para se mostrar bem e feliz. Para tanto, Calligaris diz que, “A máscara que usamos no Facebook é a mesma que usamos na vida. É o mundo da margarina. As pessoas no Facebook têm uma enorme necessidade de demonstrar que são felizes. Assim se mostram também como vencedores. Basta ver as fotos. É difícil ver alguém que não está sorrindo.” Contardo Calligaris (Milão, 1948).
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Em um contexto de valores invertidos, à vida alheia está ficando banalizada. Não é do amor do outro que realmente carecemos, mas do amor próprio. Nós, enquanto psicanalistas, precisamos nos atentar à realidade atual, para um entendimento daquilo que está se passando nas questões sociais, uma vez que isso reflete direta e/ou indiretamente a realidade psíquica de cada um. Sabemos que o social é papel dos sociólogos, no entanto, enquanto profissionais da condição humana, não podemos ignorar a era digital, posto que essa seja a atual realidade. Só assim, teremos um esclarecimento mais aprofundado dos processos envolvidos nos novos formatos de relacionamentos, com as redes sociais. É relevante nos atentarmos a um novo modo de subjetivar-se, que irá influenciar a globalização de uma sociedade do saber psíquico.
Autora, Luzziane Soprani
REFERÊNCIA:
BAUMEISTER Roy – Willpower – A importância do autocontrole –
Clara Piquet
Obrigada, Luzziane Soprani. Mais um texto abordando assunto altamente interessante! Interessante e atual, chegando a ser mesmo instigante. Do pouco que aprendi sobre psicologia, 3 coisas nunca foram esquecidas e lendo esse artigo logo vieram à tona. Falo do modelo do comportamento da mente humana, elaborado por Freud, aquele que é considerado o criador da psicanálise, e dos conceitos das descobertas sobre o ID, o EGO e SUPEREGO. Não possuo embasamento científico para ficar discursando sobre isso, mas consigo entender um pouco sobre esses conceitos que parecem muito abstratos e aplica-los ao que vem acontecendo no uso das redes sociais. Alguém que tenha tido paciencia de ler o seu texto e em seguida, o meu comentário, sugiro uma rapida pesquisa ao Google sobre o funcionamento da mente humana introduzido na obra “Além do princípio do prazer” e em seguida no livro “O Ego e o Id” ambos de Freud e que servem para uma análise mais profunda do modelo de funcionamento da mente humana. Sim, pois o buraco é bem mais embaixo!
Nivia De Oliveira
Muito bom o texto. Não simpatizo muito com redes sociais. Minhas filhas e minhas amigas vivem postando fotos e recebem muitas curtidas e elogios. Brinco com minhas filhas que aquele “dedinho” é o santinho cheio de intenções duvidosas, rsrsrs. O santinho das curtidas faz milagres no ego… Fico impressionada como às curtidas, uma mão indicando (joia) faz essas criaturas sentirem-se radiantes. É muito blá, blá, blá! Adorei esse texto. Muito sábio e verdadeiro.
Dorrya Dell Gini
Absorvi e entendo a dissertação do texto. Quando você diz, que existe uma espécie de (TOC coletivo). É a mais puríssima verdade, pois as pessoas andam sem segurança, mas para simular força e poder, usam, abusam, e ainda despenam seus travesseiros! Falta de desejo, de amor, e não falo só de amor próprio, mas de um amor coletivo. Vamos substituir o (TOC coletivo) por toque de amor??? Fantástico esse assunto. Abraço.
Mel
Querida, um belo, bem escrito e oportuno texto!
Irretocável!
Muito a refletir… autoestima, ego e vaidade sao muito complexos de para auto-analise.
Ninguem, parece, dá conta!
Belo trabalho.
Parabéns.
Laura
Lendo, relendo, achei partes minhas, e de muitas pessoas próximas a mim. Esse mundão, mundinho das redes sociais têm nos deixado a par de situações que jamais teríamos acesso, se não fossem as redes sociais. Acho ótimo, pois nos possibilitou encontrar muitas pessoas queridas, mas acho chato e hipócrita a exibição de egos. Existem pessoas que querem ser vistas como se elas fossem atores e atrizes famosos. Desejo de ser famoso e apreciado no palco das redes sociais. Muitas vezes, além de escancarem suas vidas, escancaram as dos filhos, como se fossem a família margarina dos antigos comercias de TV. Também temos muitos famosos, usando as suas próprias crianças em benefício $$$ próprio. Creio que quando há aproveitamento, a ponto de usar a imagem dos pequenos para o público, aí já passou dos limites. Tudo que é demais é apelador, enjoativo, é gritante. Excelente artigo!