“Apetite sexual excessivo, hipersexualidade, Desejo Sexual Hiperativo (DSH), ou Ninfomania (em mulheres) e Satiríase (em homens) é um transtorno sexual caracterizado por um nível elevado de desejo e atividade sexual a ponto de causar prejuízos na vida da pessoa. Trata-se de um tipo de vício com sintomas compulsivos, obsessivos e impulsivos, e seu tratamento é similar ao de outros tipos de dependências. A prevalência está em torno de 5%, sendo mais comum em homens, porém a dificuldade dos participantes em assumirem o problema por questões morais e sociais indicam que a frequência deve ser maior”.

DO TRANSTORNO PSICOLÓGICO:

Só é classificado como transtorno psicológico quando o comportamento e desejo sexual elevados prejudicam significativamente suas atividades diárias e relacionamentos afetivos. Alguns autores classificam a ninfomania e a satiríase como um tipo de compulsão. Mas atualmente é melhor classificada como um vício pois transtornos compulsivos e obsessivos (TOC) estão relacionados a atividades desagradáveis a que o indivíduo não consegue resistir e parar de pensar. Já o vício está associado a uma atividade prazerosa e dificuldade em conter impulsos. É possível também que se compulsão sexual e vício sexual sejam tratados como transtornos distintos de acordo com seus sintomas.

Popularmente acredita-se que a pessoa com hipersexualidade deseja ter atos sexuais com diversos parceiros e obtém grande prazer em todos eles, mas não necessariamente é o que ocorre. Uma pessoa considerada ninfomaníaca pode não conseguir satisfazer seus desejos sexuais e por isso sentir a necessidade de ter vários atos sexuais seguidos na tentativa de alcançar um orgasmo. O ato sexual pode ser seguido por culpa e arrependimento, o que não impede novos impulsos para outro ato, assim como nas compulsões alimentares.

“Os psicólogos analíticos Carl Jung e Erich Neumann, pesquisadores de símbolos e arquétipos, acreditam que a imagem pode ser associada metaforicamente à manifestação de estados psíquicos indiferenciados. Neste caso, alimentador e alimento se confundem, num movimento que pode ser interpretado como autodestrutivo e sem saída. Essa analogia pode contribuir para uma reflexão a respeito do fenômeno das compulsões, uma tendência imperativa que impele o indivíduo a determinadas ações por vezes contra a própria vontade consciente”.

DO FILME NINFOMANÍACA:

“Filmes são sonhos, filmes são música. Nenhuma arte passa a nossa consciência na forma como o filme passa, e vai diretamente para os nossos sentimentos, no fundo escuro salas de nossas almas.””(Ingmar Bergman)

No filme “NINFOMANÍACA” vimos a tragédia de Joe, uma mulher, que vive e encena o papel de uma ninfomaníaca. Joe incorpora um fenômeno cultural do nosso tempo: a ilusão de saber tudo sobre o corpo, tudo sobre o sexo. Realmente, somos todos ingênuos quando acreditamos que conhecemos todo nosso aparelho psíquico. No primeiro filme Ninfomaníaca, a personagem Joe diz: “Preencha todos os meus buracos”. Essa frase é a penúltima frase no final de Ninfomaníaca volume 1.

Ninfomaníaca é um filme profundo, quando olhamos para a sensibilidade e a fragilidade da condição humana. A feminilidade é de uma beleza extrema em todos os pontos de vista, inclusive, a sexualidade feminina. E sexualidade não se restringe somente a copulação, mas todo ato de afeto. Por exemplo, quando abraçamos e somos abraçados por uma pessoa querida há um ato de afeto da sexualidade afetiva e/ou quando acariciamos as nossas crianças, também, é um ato de afeto que não têm nada haver com sexo. Assim, como o relacionamento de um casal não pode se restringir somente ao sexo, pois se isto acontecer em um relacionamento não há afeto, respeito, amor, cumplicidade, mas tudo é puramente primitivo.

Mas o que buscava a ninfomaníaca (Joe) ao se deixar penetrar por tantos membros diferentes? Ela supostamente deixava se dominar, mas o que ela fantasiava mesmo – era que ela é quem os dominava. Ela fazia sexo com todos os perfis de homens – com membros de todas as cores, formatos e tamanhos, para (Joe) eram apenas objetos que faziam o que ela queria quando a penetrava. Em contrapartida, faziam o que ela desejava, sim, quando na verdade, ela permitia que fizessem o que eles queriam. Para (Joe) era indiferente com quem fazia sexo, ela os seduzia, os engolia e os vomitava.

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No filme, vemos a personagem narrando cenas de suas vivências, em uma espécie de terapia com um homem de idade avançada, que a resgata dos golpes que havia sofrido pelo homem que ela “amava…” O homem que a ajuda incorpora um psicanalista, um confessor, um ouvinte das suas mazelas. Ela narra cada detalhe da sua vida. Na sua narrativa dava a entender que o que ela viveu era apenas sexo mecânico, sem sentir prazer nenhum, porque ao terminar o sexo, o buraco do qual ela fala é sintomático. E, logo, após finalizar uma transa sente a necessidade de retroalimentá-la. O desejo é repetitivo e indomável. A mensagem que ela dizia era um pedido de socorro: “Preencha todos os meus buracos”. Mas os buracos dela eram infinitos. Contudo, como entender a si mesma, vivendo fora dos padrões e diante do mundo no qual não se encontra lugar?

No filme “NINFOMANÍACA” há cenas da vida dela na infância e adolescência – algumas cenas da infância denotam claramente dificuldades com a mãe e extremo apreço e afeto pelo pai. As cenas da vida dela com o pai era de muito afeto, atenção, ensinamentos. O pai a acolhia com sentimentos de amor. Percebe-se que o pai foi presente na vida de Joe, mas no oposto a mãe a rejeitava.

A personagem (Joe) a todo momento entra em contato com a culpa quando fala de suas experiências de vida. Joe vive a impotência e a solidão diante da vida em uma reviravolta de encontros com estranhos, carecido de vínculos e acometido por necessidades primitivas. Ela tem uma necessidade indomável de evitar o afeto, faz isso a qualquer custo e compulsivamente.

Talvez, Joe consiga compreender que nenhuma violência será preenchida para lhe dar um corpo sem buracos. Nenhum membro masculino será tão poderoso para fechar os seus buracos, nem mesmo o do homem que ama. Nesse vício repetitivo ela continuará se autodestruindo. Mas ser ninfomaníaca é não ter controle da sua sexualidade, é um transtorno sofrível. Para a ninfomaníaca, todos os buracos do corpo humano de uma mulher são buracos que a deixam suscetível, porque não são buracos mecânicos – e a ninfomaníaca não tem controle do seu vício. Por isso doe tanto à alma, quando finaliza o ato ou, até mesmo durante o ato.

DA PSIQUIATRIA:

A ninfomania, distingui-se por um apetite sexual exagerado, é um transtorno psiquiátrico – não existem razões biológicas para explicar sua origem. De acordo com o Código Internacional de Doenças (CID), a ninfomania é percebida por uma compulsão, não relacionada à produção de hormônios sexuais. Da mesma forma como a compulsão por comida, bebida ou por compras, ela acontece quando a paciente não consegue controlar seu impulso – no caso da ninfomania, por sexo. (não existem homens ninfomaníacos, nos homens essa compulsão exacerbada por sexo têm a nomenclatura diferente, chama-se satiríase, porém, muda a nomenclatura, mas o transtorno é o mesmo). No entanto, a medicina não tem critérios numéricos para classificar a partir de que momento uma mulher se torna ninfomaníaca. “O diagnóstico é feito quando há incômodo da paciente. Ela procura muitos parceiros sexuais, mas não consegue se satisfazer. Na literatura médica, há relatos de pacientes que tiveram até 50 relações sexuais em um mesmo dia”, diz a psiquiatra Fernanda Piotto Frallonardo, do Hospital Estadual Mário Covas. Geralmente, a mulher com compulsão por sexo já apresenta comportamento compulsivo desde criança, seja por doces ou por outros objetos. “O mecanismo da compulsão é o mesmo, só muda o objeto”, diz Fernanda. E, apesar da prática intensa, as ninfomaníacas não são boas de cama, afinal não transam por prazer, e sim por vício. Por isso, o desprazer, a solidão e o vazio.

O psiquiatra e psicanalista Glenn-Gabbard diz que a origem desses sintomas estão relacionadas as questões associadas ao abandono ou ao sentimento de desvalorização pelas figuras parentais nos primeiros anos de vida. A insegurança e o sentimento de não ser suficiente na infância provocam a defesa contra os afetos mais íntimos e a necessidade de controle sobre o outro. Os atos compulsivos seriam, para a ninfomaníaca, tentativas primordial de autoproteção no intuito de amenizar intensos sentimentos de desamparo.

CONCLUSÃO:

O transtorno da ninfomaníaca é a compulsão para fugir da angústia, do sintoma a repetição. O real temor da ninfomaníaca mesmo inconsciente não é ser exatamente (ninfomaníaca), mas o medo paralisante de perder o controle, que a impede de viver a experiência do amor. O transtorno é sofrível, ao contrário do que alguns indivíduos pensam que é promiscuidade. Isto não quer dizer que não tenha caráter promíscuo nessa postura, mas é um transtorno que necessita de tratamento. Nesses casos o indivíduo pode estar ladeado de muitas outras pessoas, no entanto, no âmago são vazias e solitárias. E continuará em uma vida de peregrinação caso não consiga se tratar.

REFERÊNCIAS:

– Filme – Ninfomaníaca – Volumes 1 e 2.
– Wikipédia – A enciclopédia livre.
– Site – Mundo Estranho – Saúde – Abril id.