O conceito de sintoma é essencial para a psicanálise. Encontramos o desenvolvimento do conceito de Sintoma nas obras de Freud e Lacan, que ofertam ao leitor um guia na trajetória desses autores – convidando-os a evoluir com a sua própria trajetória.”Miller (1987), Ocariz (2003) e Conde (2008)  o caminho para a leitura dos originais revelando que, ao longo da obra de Freud, o sintoma aparece como expressão de um conflito psíquico; mensagem do inconsciente e satisfação pulsional. Já Lacan, lendo Freud, apresenta o sintoma como mensagem; gozo e invenção”.

Por que o sintoma nos causa inquietação, incômodo, angústia, e, ainda assim, nos são muito benéfico. Benéfico no sentido de nos manter atentos, por pior que seja a condição que nos encontramos preferimos o conhecido a aventurar-se ao desconhecido.

O sintoma é um acontecimento que se repete, como um círculo vicioso – e, não raro, o sujeito não consegue sair dele sozinho. Na verdade, o que se repete são os modelos infantis. Os acontecimentos começam desde a primeira infância, porque é na infância que temos uma definição da personalidade, da sexualidade, do sofrimento psíquico e o gozo. Para Freud, o sintoma, tem sempre um sentido inconsciente, dispõe de uma íntima ligação com as experiências peculiares do sujeito e está sustentado por uma fantasia infantil. O inicio da personalidade do sujeito tende ir ao encontro dos acontecimentos que lhe dão prazer – e ao se confrontar com outras situações, sendo isso algo mais no sujeito, (o além do princípio do prazer), vem complementar dizendo que, nisso não reside um sistema de vida de se viver bem, em que o sujeito faz coisas indesejáveis e/ou que lhe cause sofrimento. Ora, se desencadeia angustia/sofrimento por que o sujeito continua se repetindo? Porque se existe sofrimento existe também prazer, se não houvesse prazer, não haveria a repetição. Mas eis a indagação: que prazer é esse que mesmo sofrendo, o sujeito sente prazer? O prazer deriva do inconsciente. Entende-se que, ao mesmo tempo em que o sujeito sofre, ele sente também um prazer enorme. Por isso, que o sujeito não consegue parar de repetir e abandonar o sintoma, ocorre que ele fica agarrado ao sintoma porque o sintoma o define.

“Há alguma coisa que se repete na sua vida, que é sempre a mesma, essa é a sua verdade. E o que é essa coisa que se repete? É uma certa maneira de gozar”. Lacan

O conceito de gozo descrito por Lacan diz respeito a um prazer inconsciente e ao mesmo tempo desprazer na consciência. Para Lacan o ser humano é um sujeito dividido pelo seu inconsciente e a sua consciência. Percebemos que a Psicanálise não se importa tanto com o sintoma, portanto, dá mais atenção ao gozo que está por detrás do sintoma – e dessa forma o sujeito acaba fixado no sintoma. Porque é onde o sujeito sofre e repete, que existe o gozo.

O sujeito projeta no Outro, a causa de seu desejo. Dito de outro modo, colocamos no Outro o que desejamos. Assim, o neurótico espera do Outro a esperança de que, o Outro, diga o que lhe falta. O sintoma nunca será resolvido completamente, pois somos seres sempre em busca daquilo que vai nos preencher. Dessa forma, para cada um de nós, o ser humano é na verdade, uma interrogação. Porque não há uma verdade absoluta para o sujeito. “Somos seres “furados”. E como diz Lacan: “Somos seres faltantes”. Se não falta é porque a pessoa não enxerga a falta, está simplesmente sonhando e alucinando. Tendemos acreditar que o Outro nos inspira a ser melhor e/ou apenas melhor que o Outro. Uma tentativa de resposta à questão: quem sou eu?

“Em Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Lacan (1964) trabalha a constituição do sujeito utilizando-se da matemática e especificamente, da teoria dos conjuntos e suas operações de união e intersecção e do termo vel (e/ou). Lacan destaca o fato de que não se nasce sujeito e que este surgiria através das operações de alienação e separação na cadeia significante. E é a partir desse movimento, na dinâmica própria da linguagem, que se localizaria a causa do sujeito. Nas palavras de Lacan, “o efeito de linguagem é a causa”. introduzida no sujeito. Por esse efeito, ele não é causa dele mesmo, mas traz em si o germe da sua causa que o cinde.” (Lacan, 1960, p. 849).

“O sintoma, é o significante de um significado recalcado da consciência do sujeito. […] é uma fala em plena atividade, pois inclui o discurso do outro no segredo de seu código”. Jacques Lacan ( Escritos, 1953, 1998, pág. 282)

Afirmar com convicção que no desconhecido contém resistências veladas – é poder desfazer-se de nossos benéficos sintomas – a partir da visão de quão antigos e ultrapassados esses estão – e que só se retroalimentam porque nos seguramos a eles, como se fossem um objeto de valor! Não é uma decisão fácil, nem tão pouco simples de se fazer. Porém, o primeiro passo é arriscar-se a mudança. Porque diante do mecanismo de negação em que não nos arriscamos, já estamos negando a mudança. E mudar padrões é ousar. No entanto, arriscar é poder alcançar um SIM, pois de qualquer maneira no NÃO, o sujeito já está, quando não embarca no processo de se conhecer – ele permanece no incômodo, inquietação, angústia, ou seja, sempre na compulsão a repetição. Uma vez ouvi alguém dizer: “quem quase vive já morreu”. Finalmente, é necessário coragem para enfrentar a si próprio.

REFERÊNCIA:

Sigmund Freud (1856-1939) Livro XVIII – Obras Psicológicas de Sigmund Freud

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