Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel”. René Descartes.

A mente humana sofre a tendência de achar que está vendo e entendendo todas as situações e as pessoas à sua volta. Mas o que vemos são aparências. Elas são apenas – como o próprio nome revela aquilo que aparece aos sentidos. E eles só satisfazem a percepção sensorial superficial. Mas perceber o que está de fato diante de nós exige um esforço enorme, apenas iludido pela facilidade da percepção das aparências – ou das intuições precipitadas por elas não nos beneficia.

Esta facilidade que nos é concedida pelo sentido visual é percebida e, ligado à superfície da consciência, produz uma ilusória noção de controle da realidade e sentimento de onisciência.

As aparências enganam. Quando um homem ou uma mulher desejam enganar alguém, procuram não despertar dúvidas e desconfianças e fazem o possível para disfarçar suas intenções. Isso ocorre porque o critério de se valorizar alguém pelas aparências falha frequentemente.

Os acontecimentos são sempre mais complicados do que parecem quando queremos chegar a uma conclusão sobre eles. As nossas relações costumam ser construídas através da aparência. Devo ser amigo (a) daquela pessoa que se destaca, pois quero ser como ele (a). Quero me relacionar com aquele homem ou àquela mulher interessante, charmoso (a), educado (a), sensível, super popular e, assim, serei uma pessoa invejada e feliz. Meu alvo é aquele emprego, pois é de destaque e paga muito bem. Somos tentados a tudo isso. Pois vivemos na ilusão das aparências. Não significa que não devemos buscar o que é bom, ou que tenha a aparência de bom. Significa que não devemos nos impressionar com as aparências, e fazer às nossas decisões baseadas apenas nisso. Significa também que, devemos prestar mais atenção aos sinais e usar melhor à nossa percepção-razão-intuição. Diz o ditado: “Não vá com muita sede ao pote. Quem muito corre, acaba por não saciar a sua sede.” Tudo demasiadamente em excesso torna-se perigoso, e nos faz perder a moderação, até mesmo nossos maiores desejos.

O oráculo enganador tampouco é só externo, atua desde dentro, na mente de cada um, nos acometendo de equívocos, ilusões, distorções, fantasias. No entanto, a espécie humana prefere viver na ilusão, pois a verdade se acerca do desprazer. De maneira ideal, o oráculo enganador pode ser combatido pelo pensar crítico e lúcido, pela extensão da consciência.

Sabemos que para tudo nesta vida devemos nos empenhar, querer e lutar – e quanto mais nos empenharmos mais rápido e melhor poderão ser os resultados -, mas os resultados obtidos podem chegar pelas vias mais complicadas, dependendo de como cada um se posiciona. George Orwell dizia que enxergar o que está diante do nosso nariz exige um esforço enorme. Quando queremos muito algo e não temos a “paciência em esperar”, por assim dizer, racionalizar um pouco mais, sem perder a emoção e a motivação, acabamos por aceitar o que é talvez parecido ilusoriamente, mas não fosse totalmente o que desejávamos, simplesmente, para satisfazer o EGO – e quando se acorda logo vem à frustração – de não ser exatamente aquilo o tão sonhado querer.

Por fim, as aparências enganam, mas nem tanto. É preciso nos atentar aos sinais, pois os indivíduos sedutores, sempre deixam algum rastro. Portanto, quando tiver que fazer uma escolha, nunca faça movido só pelas emoções. 

Autora, Soprani Luzziane