“Desejo é o impulso de recuperar a perda da primeira experiência de satisfação”. (Freud)

O presente artigo pretende tomar o uso do desejo sobre a peculiaridade do analista, é a operação do analista a partir do objeto a, ou seja, o objeto a, sendo o analista como objeto do desejo do analisando, como operações que precisam ser compreendidas a partir do axioma que define a psicanálise, mas, neste artigo, incitamos, a importância da subjetividade do analista. Desta articulação é possível extrair a tese de que o discurso do analista formaliza e atualiza, a noção de desejo do analisando.

É questionamento frequente na clínica, a seguinte pergunta: “Qual é a sua linha na psicanálise?” Esta pergunta é pertinente. Não há dúvida que todo embasamento está em Sigmund Freud. No entanto, vivemos em outros tempos. Se o próprio Freud estivesse vivendo nos dias atuais, em pleno século XXI, já teria feito muitas outras revoluções dentro da psicanálise.

É questionável para o analisando e/ou para quem busca a terapia esses tipos de perguntas. Dessa forma, entra a singularidade do analista. O analista deve ter manejo na transferência do analisando, e uma boa capacidade de acolhimento. Nesse aspecto, cada analista e cada analisando são movidos pelas suas próprias experiências.

Há características que constituem um bom analista? Existe no contexto, uma boa dose de estranheza e também interesse pelo diferente, aliás, o diferente impulsiona um bom aprendizado para ambos os lados: analista X analisando. Certo que nas objeções as marcas experienciadas pelo sofrimento compõem um bom terapeuta. Afinal, quem melhor para entender a dor senão aquele que já sentiu.

O discurso do analista interroga, interpela, evidencia os sentimentos do analisando. Isso, além de provocar uma implosão nesses questionamentos (repetitivos) sobre o qual tendemos a nos agarrar: o que o discurso do analista vai produzir no analisando uma movimentação, e, também, uma mudança no curso do movimento de sua vida, pois não se trata mais de produzir um movimento circular em torno de alguma coisa e/ou da mesma coisa. “Freud dizia que quando o analisando para de falar durante a sessão, é porque está pensando no analista” – associações livres –  acontecem em função do amor que sustenta a transferência e que a presença do analista enquanto objeto de amor, sustenta a dúvida –  o amor na transferência é o responsável por isso.

“Do lado do analista, supõe-se uma análise anterior e, consequentemente, que ele suporte e reconheça o seu não saber da particularidade do desejo do analisante”. (FALCÃO, 2005)

Contudo, todos aqueles que buscam um analista irão demandar do analista a necessidade de certa forma de intervenção. Como saber isso? É só no aqui e agora – que se faz a clínica – no setting analítico.
A escuta que o analisando traz para a terapia será construída a cada encontro – vivenciado nas sessões de análise e para cada caso.

Na análise, é necessário haver uma condição transformadora da angústia que paralisa o sujeito-analisante em uma dinâmica, para que aconteça a transformação da rigidez em maleabilidade, em que a moral da necessidade de agir por impulso se transforme em um desejo ético.

Vale ressaltar, o pensamento do psiquiatra e pensador Gregório Baremblitt, em uma de suas entrevistas, ele adverte que: “Todas as certezas são suspensas, até a certeza de que tem que se analisar”… “Exceto que a inspiração é o que “cura”.

Abordaremos ainda neste artigo, o texto que ilustra um instigaste e fascinante poema, em que uma menina de 15 anos – na época – em sua visão pura e poética explica tão claramente o desejo da escuta de um analista:

“Gostaria que houvesse alguém
que, ouvisse minha confissão:
não um padre – não quero que me digam meus pecados;
não minha mãe – não quero causar tristeza;
não uma amiga – não entenderia o bastante;
não um amante – seria parcial demais;
mas alguém que ao mesmo tempo fosse o amigo, o amante, a mãe, o padre.
e ainda um estranho – não julgaria nem interferiria,
e quando tudo já tivesse sido dito desde o início até o fim,
mostraria a razão das coisas,
daria forças para continuar
e para resolver tudo à minha própria maneira”.

(Publicado em 1916 em The Little Review)

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Assim, concluímos que nós analistas cada um a seu modo, somos apenas instrumentos nas sessões de análise que antes de ser nossa, está sendo construída pelo o Outro. Transitando em várias direções que são absolutamente subjetivas.

Referência:

Revista Psique – número 51, março 2010)